14 setembro de 2014

Queridos irmãos, o dia 14, dia em que a Igreja celebra a Exaltação da Santa Cruz, é a primeira celebração do nome da nossa Província.

A solenidade da Exaltação da Santa Cruz remonta aos primeiros séculos da Igreja. Nasceu no ano 335, com a descoberta da cruz de Jesus em Jerusalém. No mesmo ano, foi edificada uma Basílica no local da Crucifixão de Jesus.

A Cruz é instrumento de salvação, é o único que merece exaltação. Ela sempre foi adorada com infinito reconhecimento e amor por Jesus Crucificado. "Regnavit a ligno Deus- Deus reinou do alto do madeiro" (Hino da Sexta-feira Santa). Jesus, após sua ressurreição, foi exaltado na glória. E a liturgia convida-nos: "Vinde, todos e O adoremos".

Presente no Calvário o Centurião romano havia exclamado: "Verdadeiramente, era este o Filho de Deus" (Mc 15,19). E, assim, a Cruz sempre foi o sinal da glorificação do Redentor da humanidade. São Paulo proclamaria na carta aos Filipenses: "Deus o elevou acima de tudo" (Fl 2,9).

Desta maneira, os seus seguidores pelos séculos afora seriam os anunciadores da Cruz, reconhecendo nela, o sinal da vida e da redenção a repetirem com o apóstolo Paulo: "Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Gl 6,14).Cristo exaltado na Cruz é a nossa única glória. Eis aí uma sentença que resume bem o sentido mais profundo da festa da Exaltação da Santa Cruz.

Celebrando a solenidade da Exaltação da Santa Cruz, nosso primeiro pensamento vai a Deus que nos redimiu pela Cruz de Cristo, 'obra estupenda do seu amor por nós' (Paulo da Cruz), nosso 'grande tesouro', como dizia Santo André de Creta: "Que grande coisa é possuir a Cruz, pois quem a possui, possui um tesouro".

"Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho único para que os homens sejam redimidos" (Jo 3,16).Como Província passionista, nós somos chamados para adentrar no significado profundo deste mistério de Cristo morto no alto de um madeiro para salvação da humanidade.

O Verbo divino encarnado se fez vulnerável, tomando a condição de servo, obediente até à morte e a morte de cruz (Fl 2,8). O instrumento de suplício que manifestou o julgamento de Deus sobre o mundo prevaricador se tornou a fonte da vida, do perdão, da misericórdia e sinal de reconciliação e de paz.

"Para ser curados do pecado olhemos Cristo crucificado" (Santo Agostinho). É no encontro com o Cristo exaltado na Cruz que nós nos acolhemos como pecadores. Quando falta esse encontro, não há força no coração. Quando nos esquecemos desse encontro que tivemos na vida, tornamo-nos mundanos, acabamos por falar das coisas de Deus com uma linguagem humana. Isso não dá vida, não serve para nada, como diria o apóstolo Paulo.

Contemplemos com confiança esta Cruz para que cada um possa se imergir e vibrar ainda mais no amor de Cristo. Demos graças a Deus porque de uma árvore na qual se deu a morte, surgiu de novo a vida perdida pelo pecado.

Deixemo-nos atrair por Ele para sermos curados dos nossos pecados, das nossas hipocrisias e egoísmo. Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, a qual foi salvação para muitos, do mesmo modo, quando nós olhamos com amor para a Cruz conhecem a amor de Deus para conosco, encon-tramos paz e serenidade no coração.

Ela é para nós a fonte de toda bênção e o principio de todas as graças. Jesus crucificado faz-nos passar da fraqueza para a força, da preguiça para o entusiasmo, do individualismo para uma vida comu-nitária mais partilhada, da uma vida cômoda para uma vida doada sem reserva.

Todas as vezes que traçamos o sinal da Cruz sobre nós, síntese de nossa fé, lembremo-nos que o amor é mais forte do que o mal que nos cerca.

"Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único" (Jo 3,16)". Mundo amado, terra amada. Sobre a cruz condensam-se o excesso do dom do amor; revela-se o dom supremo de sua vida por nós.

A Cruz não é o sinal do sofrimento de Deus, mas do seu amor. Até a este ponto quis amar-nos, pois uma coisa é usar doces e consolativas palavras, outra coisa é deixar-se pregar na cruz!

Exaltar a Cruz significa exaltar o amor, exaltar a Cruz significa abrir o coração à adoração e à admiração. Elevado na cruz, Jesus atrai todos a Si. Deus é lá, na cruz, doado para sempre. A partir de agora, esse é o rosto de Deus.

Nós passionista não podemos ter outro rosto além do rosto da doação e da alegria. Pois a cruz não é sinônimo de dor, mas sinônimo de dom, dom adulto, viril.

A essência do nosso ser passionista está na contemplação do rosto do Crucificado. Aí nós aprendemos que uma coisa é falar dos pobres e outra é viver com os pobres; uma coisa é lutar pela justiça e outra é viver a justiça a partir da nossa convivência na comunidade; uma coisa é ter um trabalho pas-toral e outra é se doar pelo povo de Deus até não precisar de tomar o comprimido para pegar sono (Papa Francisco).

A transformação profunda do coração nos vem unicamente da contemplação do Crucificado. É aos pés da cruz, atraídos pelo Crucificado, que aprendemos a ser passionistas. É Ele que aquece o nosso coração e nos convida a viver a radicalidade do seguimento com alegria e esperança, a estar prontos a nos levantarmos com entusiasmo renovado para 'ir às fronteiras da missão', ouvindo os gritos, compartilhando as dores e abraçando a causa dos pobres e dos excluídos.

Celebrar a Exaltação da Santa Cruz, o nosso pensamento deve ir às tantas crucifixões injustas, às tantas pessoas crucificadas injustamente pela corrupção, pela falta de recursos médicos, pelo transporte perigoso (quantos acidentes nas nossas rodovias!); às crianças crucificadas antes de nascer, aos idosos sem recursos, aos jovens explorados que vivem na droga e na violência, às crianças sem o ca-rinho dos pais. Para muitos, a cruz, hoje é ainda sinal de maldição!

Celebrando a Exaltação da Santa Cruz, nós queremos lembrar uma testemunha do Cristo crucificado, Dom José Mauro Pereira Bastos, irmão de caminhada, falecido por um trágico acidente no dia 14 de setembro de 2006. 'Da cruz à luz' era o lema dele. Da contemplação do Cristo na cruz ele aprendeu a viver na periferia social do norte de Minas Gerais pobre com os pobres, simplex com os símplices. Vivendo como um do povo. E, hoje, aquele povo não esquece seu sorriso, suas palavras, seus gestos.

"Firme de pé, junto da Cruz,
estava Maria, mãe de Jesus,
estava Maria" e Paulo da Cruz.

Meu abraço fraterno

Pe. Giovanni Cipriani
Superior provincial