Belo Horizonte, 09 de dezembro de 2016

‘ANUNCIAI’

ANUNCIAI. Aos Consagrados e às Consagradas testemunhas do Evangelho entre os povos” (29/06/2016): é o título da quarta e última Carta circular que a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica publicou para o ‘Ano da Vida consagrada’. As Cartas anteriores, a partir de 2014, trazem os títulos: Alegrai-vos (02/02/2014), Perscrutai (08/09/2014), Contemplai (15/10/2015).

A primeira Carta fala da beleza da Alegria da vida consagrada: “Esta é a beleza da consagração: é a alegria, a alegria”: são as palavras do Papa Francisco aos noviços e seminaristas em julho de 2013. Não há santidade na tristeza. A alegria não é enfeite inútil, mas é exigência e fundamento da vida humana. Na fadiga de cada dia, cada homem tende a alcançar e a viver na alegria com a totalidade do ser.

A segunda, Perscrutai, é um convite para perscrutar o horizonte, para entrar em uma ordem diferen-te de valores, colhendo um senso novo e diferente de realidade. Não há maior liberdade do que a de deixar-se levar pelo Espírito, recusando-se a calcular e controlar tudo.

A terceira, Contemplai, partindo do ‘Cântico dos Cânticos’ e dos escritos místicos de Teresa de Ávila e de João da Cruz, nos introduz à contemplação, não como território final e exclusivo de per-cursos reservados para poucos, mas como dever de cada discípulo de Jesus.

A quarta, Anunciai, é uma reflexão sobre nossa vocação missionária “até os confins da terra” (At 1,8). “A missão, prolongamento da missão do Mestre, é o fundamento da nossa vocação de consa-grados. Fundadores e fundadoras escutaram, reconheceram e acolheram, como diretamente dirigido a eles, o imperativo de Jesus: ‘Ide e anunciai’ (cf. Mc 16,15). A vida consagra¬da, em todas as suas formas, nas suas várias fases e nos diferentes contextos, pôs-se a caminho para ‘encher a terra com o Evangelho de Cristo’, colocando-se na vanguarda da missão, perseverando ‘com firmeza de cora-ção’ (cf. At 11,23), fervorosa e criativamente (n. 13).

É uma tarefa a ser executada no estilo de Cristo (entrar na dinâmica de ver, compadecer-se e agir), na conexão entre ação e contemplação, iluminados pela Palavra, mensageiros de alegres anúncios.

A característica de toda a vida missionária é a alegria interior que provém da fé. “Na vida religiosa, a vida fraterna em comunidade, vivida na simplicidade e na alegria, é a primeira e funda¬mental estru-tura de evangelização. A comunhão fraterna, enquanto tal, já é apostolado, isto é, contribui direta-mente para a obra de evangelização. De fato, o sinal por excelên¬cia deixado pelo Senhor é o da fra-ternidade vivida: ‘nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros’ (Jo 13,35). Toda a fecundidade da vida religiosa depende da qualidade da vida fraterna em comum. Sem ser o tudo da missão da comunidade religiosa, a vida fraterna é um de seus elementos essenci-ais. A vida fraterna é tão importante quanto a ação apostólica” (n. 29).

Pensando em missão, o olho é chamado para ver as periferias e o coração para mergulhar nelas: “Aceitar o risco de novos destinatários, não escolhidos para interesse próprio, mas explorando, com audácia e compaixão, com genialidade sempre renovada, as novas periferias geográ¬ficas, culturais, sociais, existenciais” (n. 76).

Para uma reflexão final, a Carta, apresenta algumas ‘provocações’ do Papa Francisco (n. 93):

● “Os nossos serviços, obras, presenças respondem ao que o Espírito pediu aos nossos Fundadores? São adequados para ir à busca das suas finalidades na sociedade e na Igreja de hoje? Existe algo que devemos mudar? Temos a mesma paixão pelo nosso povo, estamos perto dele ao ponto de partilhar das alegrias e das dores, a fim de compreender verdadeiramente as necessidades e poder oferecer a nossa contribuição para responder a elas?”.

● “Quem é Jesus para as pessoas do nosso tempo?... Em Cristo, somente nele, é possível encontrar a paz verdadeira e o cumprimento de todas as aspirações humanas. Jesus conhece o coração do ho-mem como ninguém. É por isso que o pode curar, instilando-lhe vida e consolação”

● “Interroguemo-nos: é fecunda a nossa fé? Produz boas obras a nossa fé? Ou então é bastante esté-ril e, portanto, mais morta do que viva? Faço-me próximo, ou simplesmente passo ao lado? Sou daqueles que seleciono as pessoas a bel-prazer? É bom fazer estas perguntas, e fazê-las fre-quentemente, porque no fim seremos julgados pelas obras de misericórdia”.

● “Perante o sofri¬mento, a solidão, a pobreza e as dificuldades de tantas pessoas, o que podemos fa-zer? Lamentar-nos nada resolve, mas podemos oferecer aquele pouco que temos, como o jovem do Evangelho. Quem não tem os seus ‘cinco pães e dois peixes’? Todos os temos! Se estivermos dispostos a pô-los nas mãos do Senhor, serão suficientes para que no mundo haja um pouco mais de amor, paz, justiça e, sobretudo alegria”

● “Que comporta, para as nossas comunidades e para cada um de nós, fazer parte de uma Igreja que é católica e apostólica? Antes de tudo, sig¬nifica preocupar-se com a salvação da humani¬dade in-teira, sem nos sentirmos indiferentes ou alheios diante do destino de tantos dos nossos irmãos, mas abertos e solidários para com eles. Além disso, significa ter o sentido da plenitude, da integri-dade e da harmonia da vida cristã, rejeitando sempre as posições parciais, unilate¬rais, que nos fe-cham em nós mesmos”.

● “Evangelizar os pobres: esta é a missão de Jesus, segundo o que ele diz; esta é, inclusive, a missão da Igreja, e de cada batizado na Igreja. Ser cristão e ser missionário é a mesma coisa. Anunciar o Evangelho, com a palavra e, antes ainda, com a vida, é a finalidade principal da comunidade cris-tã e de cada um dos seus membros”.

A todos um abraço fraterno.

Pe. Giovanni Cipriani
Superior provincial