Belo Horizonte, 22 de fevereiro de 2019

1. «Eu sempre carrego uma ‘Via Sacra’ de bolso comigo”

O Papa Francisco, na audiência da quarta-feira, dia 30 de janeiro passado, presente as Monjas passionistas participantes do primeiro Capítulo geral, falou aos fiéis que ele gosta muito da Via-Sacra, “porque é caminhar com Maria atrás de Jesus”. E tirando do bolso um livrinho, disse: “Eu levo sempre este livrinho da Via-Sacra no bolso, que uma pessoa em Buenos Aires me deu de presente... Durante o dia, quando posso, sempre rezo a Via-Sacra”. “Façam vocês o mesmo, pois é seguir Jesus, com Maria, no caminho da cruz, onde Ele deu a vida por nós, para a nossa redenção”. Na Via-Sacra “aprende-se o amor paciente, silencioso e concreto”, frisou.

cc37-1.JPGEssas palavras do Papa Francisco, na Via-Sacra “aprendemos o amor paciente, silencioso e concre-to”, chamam minha atenção. E penso à ‘Via-Sacra’ de tantas famílias que em Brumadinho perderam tudo: familiares, casas, terrenos. É uma dor que não tem remédio! Tem somente revolta e esperança: revolta contra a ganância de quem coloca o dinheiro acima das pessoas e esperança que as instituições vigiem mais para esses crimes nunca mais aconteçam.

Mas, ao mesmo tempo, penso no “amor silencioso e concreto” de tantos voluntários que se tornaram presentes para levar uma palavra de conforto, dar um abraço, enxugar uma lacrima, oferecer o ombro para quem perdeu familiares e amigos e não tinha onde “recostar a cabeça” (Jo 13,25).

Quero expressar minha gratidão aos Religiosos das comunidades do Barreiro e de Milionários, assim como ao povo do nosso Santuário-Paróquia São Paulo da Cruz, em Belo Horizonte, pela solidariedade e pela presença em Brumadinho.

Via-Sacra: aprender a cuidar das feridas da humanidade

As ‘vias-sacras’ sempre vão existir. Jesus percorreu a ‘via-sacra’ não para eliminá-las, mas para nos dizer que devemos estar ao lado dos que levam a cruz no dia-a-dia.

Nas tragédias humanas, como a de Brumadinho, as feridas continuam dolorosas, as mortes permanecem irreparáveis, mas quando comunidades e corações generosos, nas suas melhores expressões, se mobilizam e se debruçam sobre as feridas das pessoas para aliviá-las, às vezes, com muito sacrifício e trabalho árduo, com a única gratificação de ter devolvido esperança, sorriso, desejo de viver às pessoas subjugadas pelas forças incontroláveis da natureza, isso significa que a ‘ressurreição’ aconteceu e continua acontecendo.

cc37-2.JPGNa ‘Via-Crucis’ aprendemos que, como discípulos que seguem Jesus, devemo-nos curvar sobre as feridas humanas, dos homens e mulheres, das crianças e dos idosos. E quando cuidamos dos/as irmãos/ãs feridos/as, nos tornamos pessoas melhores, pessoas mais humanas. O sofrimento nos humaniza. Uma pessoa que não abre o coração ao sofrimento alheio não é humana, é um robô.

No tempo quaresmal, as comunidades passionistas e às paroquias onde atuamos, sempre se destacaram pela prática da Via-Sacra. Ela não é apena um fato devocional. Ela é um itinerário de humanidade para tornarmo-nos pessoas mais humanas, para assumirmos a humanidade de Jesus, pois a divindade de Cristo manifesta-se na sua humanidade.

É um caminho onde aprendemos a viver a força e a beleza do amor (1Cor, 1,18-24) revelada na humanidade de Cristo na Cruz: “Na verdade, Aquele que, na sua morte, aparece aos olhos humanos desfigurado e sem beleza, a ponto de obrigar os espectadores a desviar o rosto (cf. Is 53,2-3), manifesta plenamente a beleza e a força do amor de Deus, precisamente na Cruz” (VC 24).

É esse amor e beleza que temos que apresentar nas nossas pregações e homilias. Infelizmente, em algumas pregações, prevalece ainda mais a ameaça de punição do que a misericórdia; isso leva as pessoas a terem uma atitude em relação a Deus, inspirada no medo da punição. Por alguns, a morte na cruz de Jesus ainda é lida com as categorias de vingança, de justiça ‘retributiva’, entendida em termos puramente fiscais. O tema da legalidade e da justiça satisfatória, aplicado à teologia e à pregação, corre o risco de se concentrar apenas no pecado e em suas consequentes punições. Desta forma, o sentido religioso acaba sendo reduzido a superstição, a mágica, a cálculo utilitarista, desesperando até da mesma possibilidade de salvação, que é dom, mas também está ao nosso alcance.

O livrinho ‘A Gloria da Cruz’, que foi reimpresso pelas Paulinas neste mês de fevereiro, tendo esgotada a primeira edição, pode ajudar a viver a ‘Via-Sacra’ como caminho de contemplação e humanização, para abrir nossos corações e curvar-nos sobre as feridas dos crucificados de hoje.

2. ‘No coração da Igreja irradiamos o Amor Crucificado’

cc37-3.JPGCom esse lema, as Monjas passionistas celebraram seu primeiro Capítulo geral em Roma, na nossa casa geral, de 20 de janeiro a 2 de fevereiro deste ano. O nome oficial e canônico delas é: Congregação das Monjas da Paixão de Jesus Cristo, erguida em 29 de junho de 2018 pela CIVCSVA, com a aprovação do Estatuto.

O Conselho geral é composto por uma Presidente, quem é Superiora maior, e por quatro Conselheiras, eleitas por áreas geográficas. Cada mosteiro continua mantendo sua autonomia ‘sui juris’.

Com essa aprovação por parte da Igreja realiza-se o desejo de Paulo da Cruz, quem queria fundar uma única Congregação, ramo masculino e ramo feminino, com o mesmo carisma: o masculino contemplativo-ativo; o feminino contemplativo. Os religiosos, para meditar e pregar o amor de Deus Pai manifestado no Cristo crucificado; as monjas, para auxiliar, com a oração, os religiosos empenhados na pregação.

O Papa Francisco, na Audiência que lhes concedeu, com um olhar direto a elas disse: “Passionistas!... Belo..., mas não basta ser passionistas, precisa ser apaixonadas”, repetindo por três vezes esta palavra.

O Superior geral, Pe. Joachim Rego, na celebração eucarística de encerramento do Capítulo, destacou a importância dessa ligação espiritual entre nós e as monjas, e a nossa responsabilidade em acompanhar a formação e a animação vocacional. Convidou aos religiosos presentes para falar mais ao povo de Deus, da beleza da vocação da vida contemplativa passionista.

Vamos acolher esse convite do Superior geral. Vamos falar mais das nossas monjas no nosso trabalho pastoral. Vamo-nos desafiar: uma monja passionista em cada paróquia onde atuamos.

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Quando papa Francisco fala da vida contemplativa, ele usa palavras bonitas e profundas: as monjas são o “coração orante da Igreja” (VDQ 5), as “sentinelas da manhã (cf. Is 21, 11-12) que anunciam o nascer do sol” (Ib. 7), o “farol que indica a rota para chegar ao porto” (Ib. 6), os “para-raios” da humanidade.

“Sem vós, queridas irmãs contemplativas, que seria da Igreja e de quantos vivem nas periferias humanas e trabalham nos postos avançados da evangelização? A Igreja olha com muito apreço a vossa vida inteiramente doada. A Igreja conta com a vossa oração e imolação para levar aos homens e mulheres do nosso tempo a boa notícia do Evangelho. A Igreja precisa de vós!” (VDQ 6).

A todos meu abraço fraterno.


Pe. Giovanni Cipriani, CP.
Superior Provincial