Festa do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo
30/06/2021

Autor: Pe. Bruno Maciel,CP

No dia 01 de Julho, a Igreja celebra com amor e devoção a Festa do Preciosíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na Congregação Passionista, esta solene Celebração foi a nos concedida em 1773, e contou com a firme divulgação de São Vicente Maria Strambi. Para melhor adentrar neste mistério singular, vejamos a seguir as motivações bíblicas.

Na Antiga Aliança, era caríssimo aos judeus comemorar a Páscoa, para recordar o dia em que o Senhor lançou ao mar os carros de Faraó e suas tropas, retirou os israelitas da escravidão egípcia e os fez passar, a pé enxuto, à Terra Prometida (Canaã), onde “mana leite e mel” (Dt 6,3). Dada grande importância, o próprio Deus dirigiu a Moisés e Aarão prescrições sobre a Páscoa, dentre as quais citamos a de imolar-se um animal de rebanho – cordeiro, cabrito ou novilho –, e marcar com seu sangue a travessa da porta e seus marcos, a fim do Senhor passar “adiante das casas dos israelitas no Egito, quando ferir os egípcios” (Ex 12,27).

Este rito de sacrifício da Páscoa para o Senhor é também confirmado por Moisés: “Lembrai-vos deste dia, em que saístes do Egito, da casa da escravidão; pois com mão forte o Senhor vos tirou de lá” (Ex 13,3). O sangue do cordeiro é então, sinal da aliança e redenção divina e de identidade dos seus servos. É igualmente sinal de vida, pois preserva os seguidores de Deus da perda ameaçadora, e por isso, na cultura e religião judaica, o sangue não pode ser desperdiçado ou tirado, “pois a vida de toda carne é o sangue, e eu disse aos israelitas: ‘Não comereis o sangue de carne alguma, pois a vida de toda carne é o seu sangue, e todo aquele que o comer será exterminado’” (Lv 17,14). Deste modo, a menstruação e a doação de sangue, por exemplo, eram mal-vistos sob a ótica da impureza e, portanto, propícios à condenação.

Na passagem para a Nova Aliança, a partir de Jesus Cristo, o sangue toma sua plenitude de salvação e vida nova. Aquele sacrifício do cordeiro e a aspersão de sangue se realizaram vigorosamente em Cristo, “que tomou sobre si as nossas dores” (Is 53,4a) e “pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha, para purificar a nossa consciência das obras mortas, para que prestemos culto ao Deus vivo” (Hb 5,14).

Antes de sofrer a Paixão e Morte de cruz, Jesus celebrou a última ceia com seus discípulos e, ao tomar o cálice, disse: “bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Nova Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26,27-28); e assim aconteceu. Quando no dia da Preparação da Páscoa dos judeus, na hora que crucificaram Jesus, não lhe quebraram as pernas, como faziam com os outros condenados, mas trespassaram-lhe o lado, de onde saiu sangue e água imediatamente (Jo 19,34).

Apontado por João Batista, Jesus é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29), imolado para a salvação do mundo, e “aquele que Nele crê, tem a vida eterna” (Jo 6,47). Quem come da carne e bebe do sangue de Jesus permanece Nele, e Ele em quem o comunga (Jo 6,56). Deste modo, o Preciosíssimo Sangue de Jesus, do qual seu Santíssimo Corpo está inebriado, é fonte de vida a jorrar para nós, purificando-nos do pecado e dando-nos a honra da vida nova e eterna. Do seu Coração ferido, o sangue e água derramados por nós e sobre nós, significam o que dizia nosso pai e fundador, São Paulo da Cruz: a “maior e mais maravilhosa obra do amor de Deus”.

Um fato ainda é importante mencionar. Ao padecer sob Pôncio Pilatos, Jesus foi entregue, pela vontade e grito colérico do povo, à morte de cruz, feito um bandido. Diante da confusão, o governador se isenta da culpa e a atribuí ao povo, que por sua vez, responde: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27,25).

O povo, tomado pela ira e insanidade, quer assumir a responsabilidade sobre a morte de Jesus, mas o que acontece é o contrário: “Eram nossos sofrimentos que Ele levava sobre si. O castigo que havia de trazer-nos a paz, caiu sobre Ele; sim, por suas feridas fomos curados” (Is 53, 4a.5). Jesus toma toda a responsabilidade das nossas irresponsabilidades, e derrama seu sangue para purificar o nosso, infectado pelo pecado. Ele nos cura de todo erro e nos converte, abrindo o caminho, ora perdido, ao Paraíso.

Nesta Festa especial, peçamos realmente que o sangue de Jesus caia sobre nós; não com o tom irônico daquele tempo, mas com a convicção de que tudo o que precisamos para viver melhor é a vida dada por Jesus. Seu Sangue fortalece nosso corpo e espírito, e nos conduz a experimentar aqui na Terra, a glória que nos aguarda na Eternidade. Permitamos que o Sangue de Cristo corra em nossas veias e artérias e nos salve, e nos faça amar a Deus e aos nossos irmãos e irmãs com sinceridade e humildade de coração.