Quando as Chagas de Cristo tocaram as nossas
30/06/2021

Autor: Pe. Bruno Maciel,CP

No alto da Cruz, ferido e maltratado pelos nossos pecados (Is 53,5), Cristo teve seu corpo e alma traspassados e inteiramente chagados por amor a nós, e aqueles que puderam ver e tocar suas benditíssimas Chagas, tiveram as suas chagadas de pecado curadas pelo imenso amor e misericórdia do Pai, revelados em Seu Filho Crucificado e Ressuscitado. Dentre as testemunhas das gloriosas Chagas de amor de Nosso Senhor Jesus Cristo queremos citar duas: o centurião (de nome desconhecido) e o discípulo Tomé.

Segundo o Evangelista Lucas (23, 44-49), ao sair do Sol, mais ou menos na hora sexta, Jesus, estando pregado no lenho da cruz, deu seu último suspiro e entregou seu Espírito nas mãos do Seu Pai. Ao fazer isto, Cristo redimiu a humanidade de suas faltas e injustiças por meio do amor e da misericórdia, jorrados em sangue e água do seu lado aberto, do seu Coração traspassado pela lança, conforme nos relata o Evangelista João (19, 34).

Ao ver tal obra de amor, o centurião que ali estava, “glorificava a Deus dizendo: ‘Realmente, este homem era justo!’” (Lc 23, 47). Em outras palavras, rendido à Redenção do Filho de Deus, o centurião foi curado da sua chaga da ignorância, posta por uma falsa razão de que Jesus era “um como qualquer outro”. Por seguinte, o centurião reconheceu e confessou pela fé, que o amor revelado na cruz e nas Santíssimas Chagas de Jesus diz respeito à verdadeira justiça, traduzida no cumprimento perfeito da Lei (Mt 5, 17) e na misericórdia divina, que significa dar a vida por seus amigos (Jo 15, 13).

A segunda testemunha, embora não tivesse visto e nem permanecido junto à Cruz de Jesus como o centurião, teve uma inusitada experiência ao tocar o Amor Chagado. João (20, 24-29) narra que Tomé, chamado Dídimo, um dos doze discípulos de Jesus, não estava presente quando o Ressuscitado apareceu aos seus discípulos pela primeira vez. Por isso, Dídimo foi avisado por seus companheiros que testemunharam na fé, que o Senhor estava vivo em meio a eles. Todavia, por não ter feito a mesma experiência que os outros, Tomé se recusou a acreditar no fato ocorrido e por isso, afirmou que só acreditaria se visse a marca dos cravos e pusesse os dedos nas chagas de Cristo [antes de prosseguir o relato, apelo ao leitor para que não perpetue a imagem de Tomé como “o incrédulo”, uma vez que sua solicitação não foi um condicionamento para simplesmente crer, mas sim um pedido de alguém que precisava ter uma experiência mais profunda da fé].

E assim aconteceu: oito dias depois, Jesus se colocou em meio aos discípulos pela segunda vez. Conhecendo a chaga escondida no coração de Tomé e mais do que isso, o desejo maior que ali havia, convidou-o: “Põe o teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!” (Jo 20,27). Ao ver e tocar as Santíssimas Chagas de Jesus, excepcionalmente a do seu lado, do seu Coração, Tomé prostrou-se e o seu coração cego contemplou a mais perfeita visão: a de que “ninguém tem maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 13), e nisto está o reconhecimento dos discípulos de Cristo- “se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35). Do mesmo modo, foi ao adentrar no Coração Chagado de Cristo e acolhe o amor e a misericórdia divina no íntimo do seu ser, que Tomé professou indubitavelmente: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,18).

Assim como o centurião e o discípulo Tomé, que contemplaram as chagas gloriosas de Cristo, não só com os sentidos do corpo, mas principalmente da alma e do coração, hoje somos nós os convidados a fazer a mesma experiência. Entretanto, mais do que ver e tocar, é preciso acreditar que, por meio das suas Santíssimas Chagas, Cristo veio para curar as nossas, abertas pelo pecado; e assim, por seu amor e misericórdia derramadas na cruz, tenhamos a Vida Eterna (Jo 10,28).